Mais repescagem
Vicente M. |Imagem principal:

Crédito(s): subpop.com
Texto:
Wolf Parade : "At Mount Zoomer" (2008)
Será que alguma banda incensada dessa década alcançará alguma sobrevida? Os Estroques já ganharam top de lista nessas porcarias de NME, penso que o Arcade Fire possa atingir algum grau de reconhecimento com o fabuloso Funeral na posteridade. Mas tirando uma ou outra, a década acabará em 2010 com grandes discos, grandes singles, mas com pouquíssimos artistas nas graças da unanimidade. Reconheço que grande parte realmente merece a relação de "uma única noite", mas esse descompromisso também deixa muita gente boa em segundo plano. O Wolf Parade, que já entregou um discaço em 2005 (Apologies To Queen Mary), ganhou lá seus 5 segundos de destaque mas hoje repousa no mesmo grupo de tantos artistas independentes de moderada expressão. Uma injustiça, diga-se de passagem.
Encontrei as MP3s de At Mount Zoomer aqui num pendrive, baixei-as na época que o disco vazou e por algum motivo digno da mais severa pesquisa psicológica deixei-as de lado. Mas após a centésima milhonésima audição de Apologies, lembrei da mancada com o disco mais recente e puxei-o das trevas, dedicando-lhe algumas dezenas de execuções. At Mount Zoomer não fez o barulho do debut, ao contrário, passou discretamente por algumas listas de final de ano e foi só, prova de que o Wolf Parade já estava inserido naquela roda frenética que engole as bandas e não permite que seus discos sejam escutados com a merecida atenção. Ao contrário de Apologies, At Mount Zoomer oferece uma maior unidade. É possível perceber o esforço conjunto de desenvolver as músicas, mesmo que elas ainda nasçam individualmente via Spencer Krug ou Dan Boeckner. A diferença está na forma como os arranjos são produzidos, evidenciando a sintonia entre os integrantes. Além disso, a produção ficou a cargo do baterista Arlen Thompsom, enquanto Issac Brock foi o chefão das gravações anteriores. Isso tudo transmite uma idéia de desenvoltura e crescimento da banda.
Musicalmente, alguns pontos predominam sobre outros, igualmente distribuídos no decorrer do álbum. Ficaram em primeiro plano as guitarras (com timbres mais limpos, porém mais intrincadas do que as do disco anterior), além dos teclados mas principalmente os sintetizadores, que dão às gravações um ar oitentista sem soar clichê, tampouco nostálgico (apesar da ironia de uma das músicas chamar-se Fine Young Cannibals). Estruturalmente, as músicas são ricas em melodias, com a banda brincando com as possibilidades de mudar cursos de ritmos e riffs diversas vezes numa mesma faixa. Tal exercício mostra a maturidade dos caras como músicos e como grupo, onde algumas músicas são estendidas a mais de seis minutos a fim de acomodar tantas idéias. Liricamente a paisagem do Wolf Parade continua imprecisa, com alusões a psicodelia e temas recorrentes no disco anterior da banda.
At Mount Zoomer é um disco para se ouvir do início ao fim, ao contrário de Apologies que apresentava semi-hits como Shine A Light. Embora algumas faixas pressuponham efeito imediato (Language City, The Grey Estates), o sangue pulsa mais forte nas faixas longas e elaboradas como California Dreamer e Fine Young Cannibals. E, como nas coisas boas o melhor sempre fica no final, o disco fecha com a fantástica Kissing The Beehive, onde o controle é revezado entre Boeckner e Krug durante dez minutos, período em que o Wolf Parade questiona a irrelevância com que vem sendo tratado pela mídia "especializada". É uma aula de ritmos, inspiração e criatividade.
Relevantes ou não, os canadenses colocaram o dedo na minha cara. Peguei meu cartão de crédito e postei um pedido de vinil em subpop.com. Tomara que chegue antes do Natal.
Comentários:
Pô, lembro de ter ouvido, e de não ter me interessado muito. Mas fiquei curioso, vou ouvir de novo. E Estroques é ótima!
Foi o que rolou aqui. Passei batido, numa única escutada. Precisei de algumas revisitadas para a coisa começar a clicar. Valeu a pena.
(Não é mais possível adicionar comentários neste post.)