Dying Days
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2009

Vicente M. |
2009

Crédito(s): southernlord.com / editionsmego.com / picadisk.com / hydrahead.com / recordcollectionmusic.com / exposeventy.com / hospitalproductions.com

Bagunça total na música, poucas referências marcantes. Seria porque o filtro só seleciona coisas boas e acabamos escutando o que há de mais bacana ao ponto de não conseguirmos pinçar os melhores nesse banquete? Enfim, sete discos que se não são os melhores, tocaram bastante por aqui. Torço para um belo 2010 para vocês, que continuemos nesse passo lento, porém, conciso.

Sunn O))) : “Monoliths&Dimensions” (Southern Lord) Monoliths&Dimensions não é o meu disco preferido do Sunn O))), na verdade, o álbum localiza-se nas últimas posições em minha hierarquia de apreciação da discografia do duo. O que sempre me atraiu no som da banda é a densidade de suas guitarras, empilhadas ad infinitum, provocando inconfundíveis visões de magma expelido das profundezas da Terra. Em M&D esse cerne é maculado, soando mais quebradiço e permissivo, ao ponto de perder representatividade e abrir mão do teor maligno que usualmente permeia o catálogo do Sunn O))) (OK, o riff de Hunting&Gathering é implacável). Mas quando tentam soar pesados, parecem que o fazem apenas por serem o Sunn O))), deixando escapar um ar de artificialismo nas seis cordas. Entretanto, M&D representa um posicionamento que há muito se cobra da música contemporânea, onde todos supostamente copiam todos e requentam o passado já requentado, ao ponto de críticos decretarem a estagnação criativa no que se faz atualmente. Esse disco, porém, é acima de tudo um manifesto de interesse pela criatividade, pelo prazer de se fazer música e se descobrir caminhos ainda não traçados, mesmo com os preços pagos com a identidade sonora do Sunn O))). Para uma banda que começou brincando de copiar o Earth, é de espantar que tenham chegado numa música transcendental como Alice.

KTL : “IV” (EditionsMEGO) Com produção de Jim O’Rourke, em IV a dupla Pita e Stephen O’Malley parece ter encontrado a maturidade de seu projeto. Depois de três registros focalizados na peça de teatro Kindertotenlieder de Gisèle Vienne, a dupla concentrou esforços em um álbum autoral, que flui com mais naturalidade que seus antecessores. Seguem os climas sombrios e o choque entre eletrônico ortodoxo e as guitarras distorcidas. A mão de O’Rourke fica clara na fluidez das faixas, que parecem partir de um ponto inicial e realmente chegar numa consolidação, algo que muitas vezes deixa de acontecer nesse gênero musical. Há ainda a contribuição de Atsuo (Boris) socando uma bateria de verdade, provocando mais um bom contraste entre o gélido som do KTL e a urgência do instrumento orgânico.

Incapacitants : “Box Is Stupid” (Picadisk) Os Incapacitants são um duo japonês da escola antiga do noise, verdadeiras legendas que ajudaram a formar a escola barulhenta nipônica junto a outros dementes como Government Alpha, Merzbow e Hijokaidan. O selo Picadisk de Lasse Marhaugh tratou de retrabalhar em dez CDs alguns cassetes esquecidos dos Incapacitants, encaixotados num belo trabalho gráfico que dá uma ampla idéia do potencial sônico da dupla. Entre registros ao vivo e de estúdio, percebe-se que os Incapacitants não são pioneiros à toa, conseguindo soar relevantes em meio a maçarocas sonoras que, não tem como defender, é barulho mesmo. Entretanto, seus exorcismos parecem contundentes, não só transmitindo a sensação de que sabem o quê e como fazem, mas que estão se divertindo com a barulheira toda. Essa fórmula traz para o ouvinte o questionamento de o quão a sério o gênero deve ser levado, de que já que noise não é música (não é?), por que não tratá-lo com a devida ironia? A caixa reúne brutalidade e bom-humor na medida certa, algo bem complicado de se achar nesse tipo de som.

Khanate : “Clean Hands Go Foul” (Hydrahead) A raspa do tacho dessa cultuada banda é contrastante: sua primeira parte está entre o que de melhor foi feito pelo quarteto, mas sua sequência final lembra o ouvinte que se trata de um álbum de sobras de sessões retrabalhadas. Clean Hands Go Foul prega concisamente o caixão de uma banda devastadora, com tudo o que ela fez de melhor e de pior. Por mais que se tente, é difícil soar mais pesado e malévolo que o Khanate.

John Frusciante : “The Empyrean” (Record Collection) Frusciante pegou embalo nas manias de seus colegas do Mars Volta e concentrou-se num disco conceitual, repleto de ganchos progressivos. Não bastando as letras, centradas nos ciclos que a vida determina, toda composição e instrumentação são impetuosas, incorrigíveis ao buscar toda e qualquer saída sonora que o contexto do disco exige. Frusciante não limitou-se a contar uma história (ou a refletir sobre um tema), ele fez questão de aplicar essa movimentação às músicas, num disco de rebuscada elaboração técnica e fluência desequilibrada. Seu crescimento como compositor e arranjador é notável, menos intimista do que em seus trabalhos anteriores, mas igualmente competente nos resultados alcançados. O motivo dele recentemente ter pedido as contas do RHCP está escancarado nesse disco.

Expo ‘70 Justin Wright lançou um punhado de registros durante o ano de 2009, todos limitados. Seja em cassete, vinil ou CD-R, seu Expo ’70 evolui lentamente, segundo seu próprio compasso, banhando-se em referências do krautrock, psicodelia e ambient analógico. Aos poucos seu som transpõe influências e comparações, ao passo que o reconhecimento e o interesse pelo projeto parecem aumentar. São poucos os casos onde quantidade não interfere na qualidade e, por enquanto, as coisas andam bem para o Expo ’70 e sua incontrolável necessidade de criar.

Kevin Drumm : “Imperial Horizon” (Hospital Productions) Kevin Drumm aproveitou o burburinho gerado pelo disco anterior, Imperial Distortion, e aplicou-se em mais uma sessão de estudos de tons e texturas com praticamente os mesmos resultados havia obtido. Sua habilidade em revelar características subliminares de sons aparentemente inertes é notável, revelando musicalidade que cresce à medida que a massa sonora movimenta-se lentamente no decorrer da única faixa do CD. Talvez Imperial Horizon soe mesmo como um subproduto de sua obra-prima, mas ainda assim há qualidade suficiente para quem se interessa por belos sons imersos em profundas camadas de barulho.

Comentários:

José Victor | 25/12/2009

Na minha modesta opinião, só escapa o “The Empyrean”!

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