Dying Days
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Disintegration versão 2010

Vicente M. |
Disintegration versão 2010

Crédito(s): Rhino Records

Em tempos onde desembolsar grana num LP/CD tornou-se um esforço de auto-convencimento, o Cure revitalizou sua obra máxima, Disintegration, em edição tripla remasterizada, recheada de versões alternativas e um show ao vivo na Wembley Arena, retrato de uma época em que a banda conheceu seu auge de popularidade e respeitabilidade crítica. Se considerarmos o material bônus oferecido em http://thecuredisintegration.com/, temos aí cinco discos da essência do álbum, um verdadeiro deleite para os fãs.

Se pensarmos bem, Disintegration é um álbum que merece uma revisão caprichada, independente do interesse comercial que cerca esse tipo de iniciativa. Poucos discos transmitem tamanha legitimidade, ao passo que Disintegration não faz força em ser obscuro, desiludido, triste - ele É. Mesmo inebriado em teclados um tanto datados e com produção marcada por algumas tendências da época, a percepção do ouvinte compartilha tristeza e beleza, perfeitamente combinadas. Dos singles, apenas Lullaby identifica-se como upbeat (isso em parâmetros Cure) pois Pictures Of You e Lovesong, embora apreciadas pelo público maior, de forma alguma entram em acordo com um perfil "alegre" radiofônico. E se dessas faixas tira-se o conjunto mais claro do disco, não é difícil imaginar que dali adiante as brumas impregnam seu conteúdo. The Same Deep Water As You e Prayers For Rain são manifestos da música sombria da banda, carregadas de desilusão, onde destacam-se as interpretações vocais de Robert Smith. E não é a toa que neste disco residam as (possivelmente) melhores músicas que a banda escreveu: Disintegration e Closedown, ricas em melodias downbeat. Curiosamente, um disco tão sobrecarregado quanto esse termina num clima até redentor, com a suave melancolia de Untitled.

Disintegration retrata uma época em que os artistas mainstream, embora controlados por anseios de suas gravadoras, eventualmente tiravam obras sui generis das gavetas. O público, por sua vez, estranhamente adaptava-se e celebrava determinados discos sem perfil radiofônico. Hoje, mesmo com toda a liberdade à disposição de quem cria, não se arrisca mais, ao menos no ambiente multinacional. Já que a moda é ficar com o que se conhece, melhor aproveitar o inverno que se aproxima e investir nessa versão deluxe. Combina perfeitamente com os céus cinzentos que se formarão.

Categoria(s): Opinião

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