Dying Days
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O que rolou em 2010

Vicente M. |

Ano de muitas mudanças em 2010, até mesmo na minha relação com a música. Beeem menos compras, muito menos espaço na cabeça para acompanhar lançamentos. Estou migrando para aquele grupo de ouvintes que acaba confuso com o que está rolando e acaba recorrendo a um disco de suas bandas protegidas. Ou a um clássico dos 90 qualquer. Temo terminar 2011 na definitiva rabugice, incapaz de me empolgar com a maioria das coisas novas, ao mesmo tempo que estarei enjoado da maioria dos clássicos modernos que fatalmente girarei durante o ano.

Mas vamos lá então:

Arcade Fire / The Suburbs (Merge): Neon Bible foi bom, mas começou a adornar o Arcade Fire de um ranso que costuma me incomodar: o messianismo. Mais um disco com ares épicos e o Arcade Fire cairia no meu ranking, mas Win Butler e cia. receberam minhas transmissões telepáticas, concordando em gravar um material mais pé no chão, mais rápido e rasteiro. The Suburbs é estruturalmente mais simples, porém, deixou o Arcade Fire bem mais palatável, isentando-nos de entrar em sintonia com os males do mundo, com os terremotos haitianos ou com os desequilíbrios familiares para entrar em sintonia com o disco. Tem punkzinho, tem folkzinho, tem indiezinho. E tudo soa muito, muito bem. Um disco redondo para ser escutado durante vários anos, quando bate o ponto de interrogação sobre o que ouvir num determinado dia, naquela hora.

The Secret / Solve Et Coagula (Southern Lord): Uma porradaria sem precedentes, ótima trilha para as corridas pelas ruas da cidade. Contribuiu com a melhoria de meus tempos, que caíram no decorrer do ano. Muitos riffs, angústia, ira e peso.

Wolf Parade / Expo 86 (Sub Pop): Olha, meu review na DD não foi dos melhores, mas acho que as canções do Dan Boeckner meio que salvam a colheita. Nada que aproxime-se dos melhores momentos da banda, mas faixas como Little Golden Age e a bela Yulia são bastante honestas, de dar vontade de escutar novamente. É até bom que o disco divida-se entre altos e baixos. Enquanto escuto, fico torcendo para que as faixas do Spencer Krug terminem e dêem lugar às do Boeckner. Cria um efeito legal.

Thou / Summit (Gilead Media): Outra pedrada, essa um paralelepípedo que desloca-se lenta mas massivamente. Doom com toques melódicos, funcionou bem por aqui.

Não tô lembrando de mais coisas passíveis de menção, mas não posso deixar o Interpol (Matador) passar batido, esse sim um engôdo dos mais brabos. Tirando Barricade, que funciona MUITO bem (resumindo, é um BELO hit), o disco parece propositalmente construído para mostrar o que de pior a banda pode fazer. Faixas pouco inspiradas, conflitos entre egos, pseudo renovação artística. Medonho.

Para 2011, temos os queridinhos Earth com dois discos novos, um ao vivo limitadão do Sunn O))). Acho que é só isso que tenho na bússola, por enquanto (quem te viu, quem te vê).

Para fechar, julgo interessante saudar a força girando em torno do vinil, com os selos aplicando-se em revitalizar o formato e colocá-lo nas prateleiras. É definitivamente mais empolgante gastar alguma parte do meu salário com vinil e os apetrechos que cercam sua cultura. Em 2010 o formato deixou a categoria da curiosidade para recuperar uma parte da seriedade que ele tem como alternativa de formato musical. Viva La Vinil.

Comentários:

Fabricio | 17/12/2010

Até que a coisa do vinil parece estar indo mais longe que imaginávamos, não? Acho que foi a boa receptividade desse nosso pequeno nicho, que estava em vias de extinção, mas revitalizou-se. Até no Brasil o burburinho vem se estendendo mais do que eu poderia apostar, apesar dos preços absurdos e as merdas desse tipo, que devem em breve exterminar qualquer chance da coisa ter alguma longevidade. Bom, uma lembrancinha dessa safra nacional eu terei, pois fiz a louquíssima extravagância de pagar 80,00 reais no relançamento do matador primeiro disco do Chico Science & Nação Zumbi.

Vicente | 17/12/2010

Não há a menor chance de eu prestigiar a indústria nacional de vinil. Não com os preços que estão pedindo. Como sempre acontece aqui, a gente já começa capenga. A NÃO SER QUE o Hurtmold relance seu catálogo, mas isso seria mais passível de acontecer em terras gringas, certo? De qualquer forma, é gratificante ver a música achar alternativa num formato que exige mais dedicação do ouvinte. Separou o joio do trigo, embora tenha encarecido essa relação.

Fabricio | 17/12/2010

"Prestigiar a indústria nacional de vinil", no meu caso, só no caso do amor por uma banda suplantar o desprezo pela indústria, o que explica essa minha compra do Chico & Nação [risos].

Sid Costa | 28/12/2010

Putz, eu quase comprei esse disco do CSNZ por 80 contos na Galeria do Rock em 2007, tava lacradinho mas achei realmente muito caro. Esse relançamento vem caprichado ou é simples?

Fabricio | 30/12/2010

Sid, o vinil é caprichado. 180 gramas, encarte com letras, reprodução da arte original (incluindo o texto do manifesto "Caranguejo com Cérebro", em letras bem pequenas, mas legível), e ainda vem o disco em CD com uma faixa bônus. Bem bacana.

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