Duas faces de Kurt Cobain
Fabricio C. Boppré |Texto:
Uns dias atrás, Kurt Cobain, se vivo, teria feito 44 anos. Eu queria ter deixado aqui uma homenagem, aproveitando o embalo de estar ouvindo bastante o Nirvana por esses dias. Mas atrapalhado que estou em meio a outros compromissos, acabei esquecendo, portanto, desculpem-me o atraso no registro. Lá vai:
(...) Cada passo do relacionamento de Kurt e Tobi apresentava desafios a sua auto-estima. Era muito difícil para Kurt se encaixar no cenário cosmopolita de Seattle, mas mesmo na minúscula Olympia ele se sentia como se fosse um participante de uma versão punk rock de Jeopardy, em que uma única resposta errada o mandaria de volta a Aberdeen. Para um garoto que que crescera vestindo camisetas de Sammy Hagar, ele descobriu que tinha de usar constantemente seu eu "Kurdt" como disfarce para proteger seu passado real. Ele chegava a confessar em um raro momento de auto-revelação em seu diário: "Tudo que eu faço é uma tentativa abertamente consciente e neurótica de provar aos outros que sou pelo menos mais inteligente e legal do que eles pensam". Quando lhe pediram para nomear que influências tinha tido durante entrevistas à imprensa em 1990, ele fez uma lista de músicas inteiramente diferente da que havia feito um ano antes: passara a compreender que no mundo elitista do punk rock, quanto mais obscura e impopular fosse uma banda, mais avançado era citar o nome dela. Os amigos começaram a notar mais o eu dividido: quando estava junto de Tobi, Kurt podia criticar uma banda que, mais cedo, no mesmo dia, ele defendera. (...)
O trecho acima é da excepcional biografia de Kurt Cobain "Heavier Than Heaven - Mais Pesado que o Céu", de Charles R. Cross. Esse trecho, e muitos outros ao longo do livro, demoliu a ilusão que alguns alimentavam quanto a uma suposta espontaneidade e despojamento no compartamento de Cobain. Dito isso, acredito que nunca, em hipótese alguma, deve-se desprezar o talento do cara, capaz de momentos de inspiração e magnetismo arrebatadores como este abaixo.
Podem me chamar de esquisito, louco, mas o trecho onde Kurt canta "I'm on warm milk and laxatives, cherry-flavored antacids", sempre foi das coisas mais tocantes e arrepiantes em tudo que eu já vi e ouvi em termos de música, na minha vida toda.
Comentários:
Legal. Eu resolvi "prestar tributo pessoal" ouvindo a versão do Albini para o In Utero. Achei incrível, com uma sonoridade mais espontânea e urgente - ênfase para os vocais berrados do Cobain. Me surpreendi quando li a respeito do álbum e descobri que muita gente fez a cabeça da banda, que amou a versão enquanto a gravava mas a recusou logo após o confronto com a Geffen. Lamentei pela posição em que o Albini foi colocado.
Cara, esse episódio do In Utero é bem retratado na biografia que citei no post. E o autor dá a entender que, não pela primeira vez, quando confrontado com questões de produção e como lançar sua música, Cobain acabou optando por aquilo que, segundo foi convencido, seria mais vendável, a despeito de sua preferência pessoal apontar para outra direção.
E quanto a essa versão original do disco, eu ouvi e me decepcionei um pouco, não achei assim tão diferente... mas foi uma única e desatenta audição, tenho que ouvir de novo.
Infelizmente ou Felizmente o In Utero acabou sendo "O Disco" do Nirvana. Ainda não escutei a versão do Albini, mas tenho certeza que não fará tanta diferença. Composições como Radio Friendly, Scentless Apprentice são autosuficientes.
Olá. Gostaria de saber o que significa o desenho na capa do álbum "Mellon Collie And The Infinite Sadness" do Smashing Pumpkins. Você sabe? Um abraço.
Eu desconfio que não signifique nada em especial... apenas um desenho funesto psicodélico em sintonia com o "libreto" da obra.
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