Sobre o novo disco do Pearl Jam (que eu não ouvi ainda)
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Crédito(s): Copiada daqui.
Texto:
Desde que saíram as primeiras notícias sobre o lançamento do novo disco do Pearl Jam, lançamento que acontece exatamente hoje, iniciou-se então uma campanha de divulgação intensa através dos canais de comunicação internéticos da banda. Se você acompanha o Twitter oficial do grupo, então não se passou um dia sem que você tenha lido uns quarenta tuítes vindos de lá, que ora falavam da data de lançamento, ora divulgavam o link para o vídeo de uma das novas canções, ora republicavam tuítes (sei que existe um termo próprio para isso, mas esqueci qual é) de fãs que davam seus depoimentos deslumbrados sobre como essa ou aquela nova música era sensacional, isso tudo repetidas vezes ao dia, e depois toda a ladainha recomeçava no dia seguinte. Se você faz parte do Ten Club ou assina alguma mailing-list oficial, também não se passou um dia sem um novo e-mail na sua caixa postal, que por via de letras garrafais, cuidava de lembrar que o novo disco seria lançado dia 15 de Outubro e que para fazer o pre-order você deveria clicar aqui. (No Facebook, ferramenta que eu não uso, prefiro nem imaginar como foi.)
A coisa prosseguiu de tal modo que muito provavelmente pro resto da minha vida irei me lembrar que o disco Lightning Bolt do Pearl Jam foi lançado em 15 de Outubro de 2013, e isso pode até não ser algo tão extraordinário assim em se tratando de alguns casos de record junkies mais compulsivos, mas no meu caso --- acho que minha patologia é um pouco menos crítica --- no meu é, uma vez que não há disco em minha coleção que eu lembre de sua data de lançamento exata --- no máximo, me lembro de meses ou estações, tipo, o Mellon Collie and the Infinite Sadness saiu no verão de 95/96, o In Utero em setembro de 93, e mais uns três ou quatro casos, se tanto.
A questão é que essa publicidade ostensiva me parece bastante contraditória em se tratando de uma banda que no início parecia ser tão avessa a todas as coisas midiáticas, à transformação de sua música em um produto para as massas, etc. O uso intenso desse aparato --- principalmente essas redes sociais que parecem se transformar cada vez mais em ferramentas insanas de fomento de consumo --- não encontra justificativa coerente se levarmos em conta que um fã da banda não irá esquecer-se de que um novo disco do Pearl Jam será lançado em breve, e que certamente estes fãs irão adquiri-lo, seja via pre-order, seja na sua loja de discos preferida (para aqueles que têm a sorte de viverem em cidades que ainda possuem lojas de discos), o que por fim abre brecha para a conclusão de que a intenção real desta tática é que a coisa se espalhe "viralmente", que todo mundo fique sabendo, e que todo mundo compre o disco. E é daí que vem o desconforto: o Pearl Jam dava a impressão de que seria sempre aquela banda que se contenta em ser relevante para este seu seleto grupo de fãs fiéis, sem se preocupar em sê-lo para todo o mundo. Pelo visto, só parecia.
Enfim, talvez os caras precisem ainda "garantir o leite das crianças", ou coisa que o valha. Pouco provável, mas sei lá, às vezes esse tipo de crítica começa a ficar imprópria pois teríamos que entrar em aspectos pessoais das vidas das pessoas envolvidas (banda), questões financeiras, e esse tipo de coisa eu prefiro não julgar. Talvez tudo isso aconteça à revelia do grupo, através de seus managers, ou do fã-clube, ou sei lá quem. Mas é difícil evitar o desconforto, para quem é fã desde lá os primórdios. Quero dizer, será mesmo? Ou é tudo frescura minha? Essa última hipótese não deve ser desconsiderada, ainda mais se eu revelar aqui que sou do tipo de dinossauro ultrapassado que se negou a ouvir o disco pela primeira vez através da abominável iTunes Store, e que continua aqui saboreando a expectativa de fazê-lo assim que chegar pelo correio o meu vinil.
Comentários:
Acho que as coisas mudaram, Fabricio, e o PJ até que mudou pouco quando comparado com outros. Imagino que eles enxerguem essas campanhas na web como algo livre, distante de jabás e corporações, ao contrário do PJ anos 90 onde eles levantaram bandeira contra entidades que faturavam sobre a imagem. O que pode ter havido aí é mesmo um erro de ritmo: não se colocaram no lugar do fã, ou acharam que o fã recebia essas interjeições com excitação (talvez a maioria receba?). De qualquer forma, abre-se a discussão sobre até que ponto a disponibilidade de informação não se transforma em uma overdose desnecessária.
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