Dying Days
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Janeiro / 2015

Vicente M. |
Janeiro / 2015

Crédito(s): Copiadas do Google Images.

Mount Eerie : Wind's Poem (2009, P.W. Elverum & Sun Ltd.)

Em meio a uma época de intermitentes reflexões pessoais, a qual ainda não apresentou sinais de expirar, ando experimentando bandas sobre as quais sempre li mas nunca ouvi. Reflexões pessoais (acho) pressupõem o exercício da habilidade de mudar e nada mais oportuno do que um livro inusitado ou um disco impensado para dar suporte à essa tarefa de colheitas incertas. Abrem a cabeça. Sempre relacionei o Mount Eerie com aquelas bandas que os indies incensam sem necessariamente carregar consigo os MP3s, isto é, justificando a ovação com efetivas audições. Sabia que tratava-se de uma sequência natural dos The Microphones (outros queridinhos daquela turma) e imaginava alguma relação com aquele tipo de música que faz você se sentir por fora do que está acontecendo ou, numa visão menos condescendente, um idiota sem os requisitos necessários para entendê-los. Mas já que o meu contexto atual de certa forma sugere peito aberto para se deparar com frustrações, escutei então alguns discos do Mount Eerie e até certo ponto não encontrei grandes contradições com o que esperava deles. É sim um tipo de música de/para criaturas introspectivas e sem empatia, em que a simplicidade do low fi anda junto com uma certa erudição, ostentando a tal finèsse que os faz soar "espertos" mas que por sua vez exige do ouvinte o dia e horário certo para digeri-la. Porém, esse Wind's Poem, calcado sobre influências de black metal (!?), traz o Mount Eerie para uma esfera um pouco familiar e, dos discos que ouvi, é o que melhor representa o apelo que celebra a banda. O citado black metal não se faz presente de forma literal: não são todos os momentos onde a mão pesa um pouco mais. Praticamente não há urros guturais (pelo contrário). O cruzamento se dá com aquilo que o gênero supostamente cultiva: tristeza e desilusão, porém, por outras vias. Phil Elverum é realmente muito bom em usar sentimentos melancólicos e temas sinistros e apresentá-los através de roupagens bastante diversificadas, com a solidão atuando feito fio condutor entre as faixas. Isso faz com que Wind's Poem transcorra por diversos gêneros e suscite predicados díspares como beleza, grandiosidade, simplicidade e intimismo com a maior fluência possível. Wind's Dark Poem e Hidden Stone flertam com a estética do black metal (esta última com fantásticos vocais), My Heart Is Not At Peace dá as coordenadas da qualidade melódica das músicas de Elverum. Between Two Mysteries se apodera de um trecho da trilha de Twin Peaks e torna-se tão obrigatória quanto assistir à série e ainda há manipulações sonoras em (Something) e lirismo indie em Through The Trees. Tenho dificuldades de afirmar que Wind's Poem abrirá o leque do Mount Eerie / Microphones para mim. Porém, sua missão de embalar meus questionamentos e instigar minha zona de conforto foi cumprida com êxito.

Interpol : El Pintor (2014, Matador):

Citei esse álbum no meu rescaldo e como a rotação dele está alta por aqui, acho que vale reafirmar a boa surpresa que ele causou. A banda estava com filme meio chamuscado depois do (quase constrangedor) disco homônimo de 2010, onde ficou bem evidente a crise de identidade gerada pela saída do baixista e antecipada na irregularidade da qualidade dos discos solo de Paul Banks. Comparei o Interpol com os Smashing Pumpkins, banda que a partir de um certo momento foi obrigada a travar cruzadas particulares para se realocar no panorama musical de hoje e tentar soar de alguma forma relevante. Pois se os ouvintes ainda não conseguem desvincular o Interpol de seus grandes momentos, esperando de novos trabalhos um resgate da empolgação provocada por Turn On The Bright Lights, o trio (assim como o Billy Corgan) parece ter conseguido resolver boa parte de suas hesitações, apresentando um disco mais direto e automático, representando o que de melhor pôde criar em 2014. Apesar do esforço na releitura dos êxitos passados evidenciar-se, o que faz de El Pintor uma espécie de porcelana reconstituída, a banda conseguiu retomar significativamente seus principais atributos e, mesmo sem soar tão sorumbática (talvez o que causava maior fascínio em seus primeiros discos), reuniu um grupo bem consolidado de novas canções. Everything Is Wrong e Ancient Ways têm assinatura clássica da banda, Anywhere e My Desire parecem extraídas do terceiro álbum, alguma coisa de Antics é resgatada em Same Town, New Story e My Blue Supreme. Praticamente nada do experimentalismo inconsistente de Interpol (o disco) pode ser encontrado e há ainda a faixa climática que fecha o disco em ritmo reflexivo, Twice As Hard, como tem sido hábito nos últimos discos do Interpol. Para uma banda que mesmo em sua arrebatadora estreia ficou marcada como uma nova roupagem do Joy Division, El Pintor até que nos brinda com um bom conteúdo, como nos agradecendo por não a termos abandonado até aqui.

OBS.: Esta é uma banda que usa terno e gravata.

Broken Social Scene : Broken Social Scene (2005, Arts & Crafts)

Tenho escutado bastante a Leslie Feist (escreverei sobre ela na próxima oportunidade) e das sucessivas audições de seus discos à redescoberta do Broken Social Scene, com o qual ela esporadicamente contribui, foi um tapa. É um coletivo em que o caráter colaborativo está em primeiro plano, suas músicas não preservam formatos, gêneros e comumente partem de um ponto para terminar em outros completamente inusitados, dificultando que nos recordemos dos caminhos que nos levaram até aquele final. Isso faz com que ele imponha uma certa dificuldade de assimilação: muitas coisas acontecem ao mesmo tempo em uma única música, há uma overdose de criatividade combinada a partir das múltiplas contribuições de quem participa de uma determinada faixa, muitas vezes deixando o ouvinte soterrado em tanta informação musical. Dos três discos que disponho, esse homônimo é o que melhor equilibra os devaneios com os momentos assimiláveis e nele estão a maioria das faixas que mais se parecem com hits. 7/4 Shoreline conta com os vocais indefectíveis da supracitada Feist e é uma das canções que melhor representa as qualidades imediatas da banda. Major Label Debut e Swimmers (essa última com uma predileção especial por aqui) ilustram os diferentes e por vezes conceitualmente díspares gêneros com os quais a banda flerta. Fired Eye'd Boy é a mais redonda do disco, quase um tributo a um New Order surgido na efervescência da música alternativa dos anos 90. Destaco ainda It's All Gonna Break com sua letra, ahm, irreverente recheada de significados exclusivos para a banda. Mas o que determina mesmo minha empatia com o Broken Social Scene é a familiaridade que tenho com as influências deles e o conteúdo com o qual eles inflam suas músicas. É uma espécie de apanhado de muitas coisas boas feitas nos anos 90 / 00, reestruturadas num frenético rotor de ideias, sem compromisso com imediatismos ou mesmo uma coerência que seus ouvintes supostamente esperariam. Lógico, eles não conseguem fazer isso sem pecar pelo excesso mas, mesmo assim, a tormenta de êxtase ao criar música impossibilita que se fique indiferente ao som deles.

Comentários:

Fabricio | 09/02/2015

De fato, o Interpol me parece daquelas bandas que se sente muito bem num estúdio de fotografia [risos]. Mas gosto muito do primeiro disco.

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