Dying Days
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Só na música

Fabricio C. Boppré |

Já sem se sentir cansado, Henry se afasta da parede onde estava recostado e caminha para o meio do auditório escuro, na direção da grande máquina de som. Deixa que o som o envolva. Existem esses raros momentos em que, juntos, músicos atingem algo mais doce do que tudo o que já obtiveram antes, nos ensaios e nas apresentações, algo além da mera competência técnica e cooperativa, quando a expressão deles se torna tão fácil e elegante quanto a amizade ou o amor. É então que nos proporcionam um relance do que podíamos ser, do que temos de melhor, e de um mundo impossível em que damos para os outros tudo o que temos, mas sem perdermos nada. No mundo real, existem planos minuciosos, projetos visionários de reinos de paz, todos os conflitos resolvidos, felicidade para todos, para sempre — miragens em nome das quais as pessoas estão dispostas a morrer e matar. O reino de Cristo na terra, o paraíso dos trabalhadores, o estado islâmico ideal. Mas só na música, e só em raras ocasiões, a cortina, de fato, se levanta para esse sonho de comunidade, e ele é evocado de forma fascinante, antes de se dissolver junto com as últimas notas. (...)

Trecho de Sábado, de Ian McEwan, tradução de Rubens Figueiredo [Companhia das Letras]

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