Desvendando Steve Roach
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Crédito(s): Foto copiada daqui.
Texto:
Eu não sei direito quem é Steve Roach. Assumo logo isso porque tenho a vaga impressão de que eu deveria saber um pouco mais sobre ele… Mas não sei de nada além do fato de ser um veterano da música ambiente/eletrônica que lança discos aos montes. “Aos montes”, sem exageros — dê uma olhada aqui. Posso não conhecer muito sobre o sujeito, mas conheço alguns destes discos, velhos companheiros que, se a memória não me falha, eu nunca citei anteriormente por aqui — outra de minhas injustiças para com Roach. Tenho que resolvê-las. Antes, contudo, de procurar algo para ler sobre o homem por trás da música, decidi navegar pela sua longa discografia disponível no bandcamp e escutar alguns dos álbuns que eu ainda não conheço. A pujante produtividade de Roach é algo incrível, mas ainda mais incrível é que a grande maioria destes discos é excepcional, e não poucos são até mesmo de cair o queixo, música verdadeiramente especial, do tipo que retira o ouvinte do mundo e o leva para muito longe. O homem tem uma visão, e uma missão — isso logo fica claro. Não demorou muito para que eu, mesmo um pouco aflito diante da vastidão deste mundo de sons — pois finalmente cheguei àquele estágio da vida em que começo a considerar a hipótese de selecionar melhor o que ouvir, o que ler, o que assistir, etc., porque afinal a vida não dura para sempre — mesmo diante disso tudo acabei ficando com vontade de conhecer todos estes álbuns em seus mínimos detalhes, habitar seus mundos por tantas horas quantas sejam necessárias, e também de comprar alguns deles (tenho já em minha coleção, adquirido no ano passado, este) como forma de agradecimento ao seu autor e pequeno auxílio para a continuidade desta sua nobre missão musical. Há muita coisa para download gratuito no link que passei acima, o que me faz pensar que Roach deve ter já meios e experiência de composição e gravação que o permitem ir soltando estes discos numa velocidade bem acima da média, e de vez em quando, de acordo com seja lá quais forem seus critérios pessoais para tal, ir tornando um ou outro trabalho gratuito. Muitos desses discos, de fato, dão a impressão de não terem demandado um grande esforço de concepção, ou uma produção muito laboriosa e meticulosa, e muito menos o envolvimento de muita gente: é música eletrônica artesanal que parece obedecer impulsos privados, inspirações ou estados de espírito casuais, seguidos pelo ligar de alguns aparelhos e pela experimentação de alguns novos sons digitais, a busca pelos ruídos adequados, alongando-os para ver até onde vão, e alguns toques no teclado e no mouse aqui e ali, alguns ajustes outros no maquinário todo, e pronto, aí está, música nova para mundo — este mundinho tão necessitado daquelas velhas boas energias da Nova Era —, armazenada em arquivos digitais que sem maiores dificuldades extras logo estarão on-line para a apreciação de quem estiver atento. Espero não estar dizendo uma grande besteira e sendo injusto e ingrato com Mr. Roach, e pior ainda seria dar a impressão de estar desdenhando da qualidade de seu trabalho, por isso repito: o que esse homem produz é em sua maioria excepcional, e há ainda alguns discos verdadeiramente maravilhosos. Seus fãs lhe são muito gratos, Mr. Roach! Agora como ele consegue, isso eu já não sei dizer. Procurei por fotos suas na internet, para ver se obtinha alguma pista a partir de sua aparência, e descobri apenas que ele é meio parecido com o Vangelis, o que é muitíssimo interessante, mas não resolve a questão. Talvez viva num contínuo de inspiração e trabalho desinteressados adquirido após muitos anos de prática em alguma forma secreta de meditação que utiliza discos de La Monte Young e Terry Riley como mantras, tendo finalmente atingido a perfeição absoluta com o advento da internet, meio de natureza similar à sua música e que lhe proporciona a possibilidade de vazão quase imediata de sua produção? Pode ser. Ou então ele simplesmente veio de outro mundo. O ótimo Molecules of Motion está gratuito lá no bandcamp e me parece uma boa porta de entrada ao vasto e fantástico mundo de Steve Roach, para quem se interessar.
Comentários:
Não há nenhum comentário.
(Não é mais possível adicionar comentários neste post.)