Discos do mês - Agosto de 2022
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Crédito(s): Kreator em foto de autoria desconhecida, copiada daqui.
Texto:
Minha nova banda favorita se chama Anaal Nathrakh. Estou ciente de que o nome não soa nada bem; nem o fato de ter sido extraído de um encantamento proferido por Merlin neste filme (uma das minhas mais antigas lembranças cinematográficas) o salva. Os títulos dos discos, em compensação, são ótimos: Hell Is Empty, and All the Devils Are Here e Total Fucking Necro são dois dos melhores. Este último é uma compilação de faixas das duas primeiras demos da banda e sua audição comporta uma única conclusão: os dois sujeitos por trás do Anaal Nathrakh nasceram para isso, para fazer música extrema de gelar os ossos. Às vezes me pergunto que tipo de criança foi alguém capaz de, mais tarde na vida, criar uma música repleta de tanta turbulência, caos e brutalidade. Sorte a nossa os pais destes meninos não os terem metido em clínicas psiquiátricas desde cedo, o que provavelmente comprometeria a possibilidade de uma carreira artística. Essas demos são arrasadoras, mas os discos vão ficando ainda melhores, mais apocalípticos, devorando e absorvendo influências (black metal, música industrial, etc.), cataclismas sonoros altamente estimulantes e bestiais. “Perturbator” também não soa lá muito bem, mas temos que dar um desconto: o camarada é francês. Em sua língua natal a pronúncia talvez soe melhor, ou mais divertida, não sei. O som criado por Perturbator, em todo o caso, não dá margem para dúvidas ou desconfiança de nenhum tipo: é pura e total satisfação, um mergulho mega-indulgente e sem limites em um universo de sintetizadores, estética de trilhas sonoras, submundo virtual pré-redes sociais, cenários urbanos semi-iluminados por luzes neon… Acho que deu de captar o espírito da coisa, certo? O exagero sinestésico é de fato tão grande, a paixão pelos anos 80 e 90 tão escancarada e despudorada, que me surpreende estes seus discos encontrarem tanto entusiasmo e receptividade — eu nunca imaginaria existir tanta gente de gosto musical tão ruim e tão encharcado de nostalgia como o meu. TERROR 404 foi o último disco do Perturbator que escutei, e fiquei com a impressão de tê-lo achado o melhor de todos. A confirmar. Bem, aqui no meu canto, é isso o que tenho escutado: música eletrônica e metal. São dois dos gêneros mais lúdicos e escapistas dentre aqueles com os quais tenho afinidade, e assim sigo ludibriando corpo e alma com as imagens mais distantes e extraterrenas que minha mente consegue conjurar. Tem funcionado: permaneço vivo e razoavelmente são. Encerro este curto relato rendendo homenagem ao venerável Kreator, minha banda de thrash metal favorita. Eu sei, eu sei, ter como banda thrash favorita uma de fora do Big Four pode soar esnobismo, mas assumo o risco mesmo assim. Há um fator que desequilibra o jogo em favor destes alemães: com o passar dos anos, o Kreator foi se tornando cada vez mais político, abordando temas como desigualdade e destruição ambiental em suas letras, fincando os coturnos ao lado dos mais fracos e denunciando tiranos e reacionários em geral. Em um cenário onde figuras abjetas como esta e esta infelizmente não são exceções, a existência de um Kreator minimiza um pouco o ressentimento que sinto às vezes por gostar tanto de metal… E, claro, não bastasse a atitude, os caras ainda lançam discos excepcionais como este Hate Über Alles, que saiu do forno e foi direto para a minha lista de melhores de 2022. Vida longa ao Kreator!
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