Discos do mês - Agosto de 2025
Fabricio C. Boppré |Imagem principal:

Crédito(s): Study of a Man Lying Down, de Edward Hopper. Imagem copiada daqui.
Texto:
Deftones - private music
"Talvez esteja na hora de admitir que sou fã do Deftones", eu pensava enquanto escutava a este recém-lançado private music. Já ao fim da segunda audição resolvi engavetar a ideia e deixar o Deftones habitando esse limbo que existe entre as bandas que ativamente gosto e as que ativamente desgosto. Não sei bem o que ocorre: não pode ser somente a antiga associação da banda com o nu metal, ligação esta que sempre me pareceu mais circunstancial do que propriamente estilística — comparar um som rico e intenso como o do Deftones com a música repelente feita pelo Korn é uma maldade. Talvez seja a impressão que tenho de que o Deftones é por demais auto-referencial, há uma fórmula que se repete exaustivamente em seus discos. Eu, que nem escutei-os tantas vezes assim, sempre me pego adivinhando como será o refrão de qualquer nova faixa do Deftones enquanto escuto aos seus 10 ou 15 segundos iniciais pela primeira vez. Adivinho a melodia, a modulação da voz do cantor. "Agora ele vai fazer assim com a voz" — pimba, ele vai lá e faz. E isso vai ficando irritante. Dito isso, há uma hora e um lugar para o Deftones. my mind is a mountain e milk of the madonna não são faixas de uma banda que se descarte com facilidade. Continuo hesitando me declarar fã de Deftones, mas que ninguém estranhe se private music aparecer em minha lista de melhores de 2025.
Iron Maiden - Seventh Son of a Seventh Son
Assim como existe o conceito de "comfort food", penso que deveria existir também o de "comfort music" ou "comfort records", e se já não existe, então declaro que a partir de agora existe. E vou mais longe: considerando as discografias mais extensas nas quais o sujeito navega desde muito cedo em sua vida, poderia muito bem existir o conceito de "comfort record" dentro da obra de tais bandas. Pois bem, meu "comfort Iron Maiden record" há de ser o Seventh Son of a Seventh Son. Esse disco eu ponho para tocar e me afundo em boas lembranças e alegria. Na minha opinião seus teclados e sintetizadores (na maioria das vezes não sei distinguir uma coisa da outra) soam melhores e mais harmoniosos do que em Somewhere in Time, assim como o épico de Seventh Son of a Seventh Son (a faixa que dá título ao disco) eu o prefiro ao seu correspondente naquele outro disco (lá é Alexander the Great). Favoreço também a sonoridade mais aveludada de Seventh Son of a Seventh Son em comparação com a produção sintética e algo histérica de seu antecessor — e a esta altura pode até parecer que não gosto de Somewhere in Time, mas gosto muito! Se, como dizem, o Maiden teve vários auges em sua longeva carreira, Seventh Son of a Seventh Son há de ser um deles: as melodias são inesquecíveis, os duelos de guitarra envolventes, Bruce Dickinson é uma multidão de personagens, nem todos necessariamente feitos de carne e osso. Amo a introdução de baixo de The Clairvoyant, e Moonchild, mística e ameaçadora, é para mim a melhor faixa de abertura de um disco do Iron Maiden. Fácil um dos meus três álbuns favoritos da banda.
Isabelle Faust, Alexander Melnikov & Salagon Quartet - César Franck: Sonate Pour Piano Et Violon / Ernest Chausson: Concert
Certa vez um amigo viu este disco na estante aqui de casa e disse, entusiasmado: "essa música é para escutar deitado no chão, esparramado". Poxa, por que não me ocorrem descrições como esta? Uma imagem simples, poucas palavras, e tudo está devidamente esclarecido — muito diferente destes textos que derramo prolixamente por aqui, que muito raro dão conta do que eu realmente gostaria de dizer. Pois é isto mesmo: a sonata de Franck (ele se referia a esta obra) é música para se ouvir desabado no chão, descansado e desguardado. De tudo quanto já escutei, digo seguro: jamais um piano e um violino fizeram tão boa companhia um ao outro. A música enfeitiça a alma desde seu primeiro fraseado, cheio de fragrância e melancolia. Sobre a interpretação da dupla Isabelle Faust e Alexander Melnikov, a de Faust é contida, segura; os novos caminhos que seu violino vai experimentando nos três movimentos iniciais são tateados com prudência, e mesmo a eloquência do movimento final soa como que enquadrada por uma moral poética inflexível. O piano de Melnikov: não consigo imaginar melhor. Sim, música para se ouvir estatelado, desamparado, assim se deixar morrer e assim ser revivido.
Comentários:
Bem bom esse Private Music. Ainda fica um pouquinho abaixo do Ohms, mas considerando o pouco de novidades que escutei esse ano ele entra fácil num top alguma coisa desse 2025.
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