Dying Days
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Discos do mês - Junho de 2022

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Junho de 2022

Foi somente após aquele interlúdio feito de massas de violinos, de pianos e sinfonias, que consegui aplacar um pouco da minha revolta, voltar-me novamente para dentro de mim e, com a mente um pouco mais serena, terminar o mês ainda entre os vivos, apreciando música de forma mais atenta e descansada. Não está nada fácil. Já ultrapassamos todos os limites, assumimos de vez a sordidez e a vilania como lemas nacionais. Mas deixa para lá. Daquela maratona de música erudita, gostaria de mencionar a descoberta deste lindo Bach to the Future, de Olivier Latry. O disco traz peças de Bach tocadas no órgão, esse instrumento tão peculiar e cujo som é um gosto adquirido, ou pelo menos assim foi no meu caso. Alguns invernos atrás, em um temporada morando no norte da Escócia, eu ia semanalmente a uma pequena igreja que oferecia concertos de órgão às quintas-feiras, sempre ao meio-dia, programação organizada pelo departamento de música da universidade local. Custava 2,00 euros e o público era mais ou menos sempre o mesmo: umas seis ou sete senhoras de muletas e cabelos branquíssimos, uns dois ou três estudantes japoneses frequentemente metidos em estranhas japonas esportivas, uma jovem professora de música (que depois assisti regendo um coral na mesma igreja), um sujeito de cabelos loiros compridos e olhos esbugalhados, um ou outro turista ocasional, e eu. Foi assim, semanalmente, ouvindo ao som ecoando na abóboda da pequena igreja e observando discretamente a fauna local, que aprendi a gostar do som cinemático do órgão. O disco de Latry, é claro, traz a destreza do organista famoso e veterano que nem sempre eu testemunhava naqueles concertos, cujos instrumentistas eram em sua maioria estudantes e professores de música, e apenas ocasionalmente algum músico profissional que calhava estar passando pelas redondezas. O repertório escolhido por Latry é perfeito; sobre Bach ninguém precisa dizer nada. É o disco que vou recomendar daqui por diante sempre que alguém me pedir por alguma sugestão de música de órgão (não que isso aconteça com frequência). Depois da mini-maratona erudita comecei a escorregar suavemente para a música pop da minha predileção, e ouvi diversos dos discos solos do Mark Knopfler, alguns do Dire Straits, muito Midnight Oil. Gostei bastante do Resist, o disco que o Oil lançou no começo do ano, mas não venho escutado-o pois ainda estou aguardando chegar minha cópia em CD. Foi o infalível Diesel and Dust que coloquei para tocar mais frequentemente nestes últimos dias. Já cogitei por aqui algumas vezes qual seria meu disco favorito de todos os tempos: o Mellon Collie and the Infinite Sadness; o Automatic for the People; o Scoundrel Days; o Kettle Whisttle; o Laughing Stock… Costumam ser estes os mais cotados, mas, oras, no fim das contas acho que não é nenhum deles — é o Diesel and Dust. (Junto com o Laughing Stock.) Não tem faixa dentre aquelas 11 que falhe em me emocionar; é um disco brilhante de cabo a rabo, eu o escuto extasiado do início ao fim. O Oil está em sua última turnê e tem me ocorrido com frequência a ideia de largar tudo por aqui, fugir deste país de sádicos e seguir a minha banda favorita em seus últimos shows pela Europa e depois Austrália, e, terminada a aventura, provavelmente falido e estropiado, pedir refúgio ou morar debaixo de alguma ponte mesmo, em qualquer lugar cujas notícias não me façam sempre instintivamente virar o pescoço em direção à minha janela de quarto andar. Por último, uma descoberta: será que a razão por eu sempre ter gostado tanto dos Smiths chama-se Johnny Marr? The Messenger é o primeiro disco solo dele que escuto e o adorei!

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