Dying Days
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Discos do mês - Novembro de 2024

Fabricio C. Boppré |
Discos do mês - Novembro de 2024

Crédito(s): tela de Paulo Gaiad (título desconhecido).

Existem as bandas boas, as ótimas, as raras especiais, e existiu o Nirvana. É isso, não? Ou será esta opinião o sintoma de que acabo de avançar mais uma casa na jornada do saudosismo e da velhice? Não, acho que é isso mesmo. In Utero nos impõe esta conclusão com a força e a aspereza de seus 12 clássicos irretocáveis. Não vejo o derradeiro disco do Nirvana como uma evolução assombrosa (como foram os últimos discos do Talk Talk, por exemplo, que precisou até mesmo encerrar sua existência como banda após o Laughing Stock por simplesmente não haver mais o que pudessem fazer ou para onde pudessem evoluir); para mim, In Utero é mais do mesmo, mas ainda mais fresco e melhor, e isto ganha significado quando lembramos qual disco veio antes. Se a banda tivesse tido continuidade, acredito que eles teriam gravado mais dois ou três álbuns formidáveis e aí sim, efetivamente bored and old, pediriam a conta e passariam a régua. Teria havido tempo para diluírem toda aquela flama e energia em uma discografia um pouco mais ampla, e cada álbum receberia sua quota de amor e de destrato, de favoritismos e de desdém, tudo mais bem distribuído no tempo e no espaço... Tendo sido como foi, coube ao In Utero receber todo o peso do mundo, e o tempo passou, e o peso não vergou o disco, que ganhou até mesmo uma camada extra de beleza dura e glacial, calcificada pelos fervores de nossa paixão pela banda e da tristeza pelo seu traumático fim. Houve bandas longevas, houve bandas fulgurantes e houve o Nirvana. Mas novembro talvez tenha sido o primeiro em muitos meses em que percebi uma inversão no equilíbrio da música que escuto cotidianamente: do predomínio do death metal e de outras linhagens de rock 'n' roll bombástico para uma preferência por sons mais quietos e acústicos, passando até pelo retorno às peças de música antiga de câmara. Sim, foi inevitável retirar o acústico do Nirvana da estante, mas escutei principalmente ao discos de Meg Baird e aqueles menos elétricos de Steve Gunn. Estes dois artistas me atraem pela perfeitamente consumada mundanidade de suas músicas, conjuntos de canções que somente os cada vez mais raros espíritos que sabem observar em silêncio ao mundo ao seu redor são capazes de criar. (Não foi surpresa alguma quando, dia desses, descobri que eles já colaboraram em alguns projetos: a afinação de seus estilos e personalidades é muito óbvia.) Acho até que ouvi algumas boas doses de metal nas últimas semanas, mas não me lembro de quase nada disso; do que mais me recordo agora foram muitas boas horas na companhia da música serena e reconfortante de Meg e Steve. Sim, parecem ares de mudança... Vejamos o que mais dezembro nos traz além do verão e do fim do ano.

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