Dying Days
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Heavy metal roundup, Vol. III

Fabricio C. Boppré |
Heavy metal roundup, Vol. III

Crédito(s): capa da demo Paysage d'Hiver, da banda de mesmo nome.

Sea of Bones - The Earth Wants Us Dead

O clima de tensão e de ameaça constante neste colosso de disco não é algo que se escuta todos os dias. Um cão infernal de pêlos eriçados e caninos à mostra, mirando sua presa com olhos fixos e desvairados: é isso o que me vinha à mente o tempo todo. Por via das dúvidas, evitei movimentos bruscos. Isso na primeira metade do álbum; a segunda é uma bela e longa peça de ambiência cósmica maligna.


Pyrrhon - Abscess Time

Um galpão industrial abandonado, vidraças quebradas, mato crescendo por todos os lados. Maquinário enferrujado, entulho, uma banda tocando para ninguém — o som ressoa no lugar vazio, bate nas paredes decrépitas e no teto vazado e volta. Baixo chumbado à Godflesh, vozes entrecortadas, manipuladas, medonhas, música que até bem pouco tempo atrás remeteria às ruínas de alguma Sibéria distante ou à tragédias nucleares, porém hoje soa desconfortavelmente próxima, o som de arredores já não tão longínquos assim. Deve ser o que chamam de globalização e progresso.


Paysage d'Hiver - Im Wald

Não é sempre que eu escuto black metal, e o fato de não poucas destas bandas estarem associadas a movimentos de extrema direita não ajuda nem um pouco na reputação do gênero aqui comigo. Por isso é bastante significativa a quantidade de vezes em que, seguindo uma ou outra recomendação (colhidas em sua maioria de blogs e e-zines que já contam com um saudável filtro antifa ativo), acabo descobrindo sons que me encantam profundamente. A intensidade do estrondo, da massa sonora criada pelo excesso de guitarras, teclados e bateria — e, no caso do Paysage d'Hiver, pelo som contínuo do vento e demais efeitos que criam uma ambiência pesada, sinistra e sufocante — essa massa quando dá liga pode elevar a música a algo de outra ordem. Im Wald é um disco longo, exigente. Quando guitarras e bateria começam o massacre, o impacto é excruciante, o som é uma espécie de flagelo. Mas depois de algum tempo começa-se a perceber que ele é também uma malha menor e menos importante, um veículo para algo maior que está a se deslocar muito lentamente, em uma outra ordem temporal, flutuando por cima da aspereza e da agressão extrema dos instrumentos. São estes espectros e esse tipo de incantação sonora que fazem com que o black metal, em seus melhores momentos, soe algo ímpar e especial, e o Paysage d’Hiver maneja esse feitiço com uma paciência e uma excelência que eu ainda não tinha escutado em tal escala monstruosa. Essa banda é minha melhor descoberta no reino da música extrema em muito tempo.


Furia - Księżyc milczy luty

No metal, quando convergem numa mesma banda autoconfiança, proficiência técnica e uma imaginação sem limites, o resultado pode ser algo magnífico como este disco. É difícil descrever quão bom é Księżyc milczy luty. Numa única faixa — como, por exemplo, Zabieraj łapska — a banda soa ao mesmo tempo rigorosamente única e gloriosamente metálica, coisa que, dados os dogmas e as convenções do gênero, pode parecer a princípio inconciliável, mas não, os poloneses do Furia provam definitivamente que não é. Este disco é daqueles especiais que não apenas reafirmam, mas ampliam meu amor pelo metal e pela sua capacidade ilimitada de manter-se vigoroso e estimulante.

Categoria(s): Opinião

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