The Empyrean: Lamentável atraso
Vicente M. |Imagem principal:

Crédito(s): recordcollectionmusic.com
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Esse foi mais um atrasado de 2009, por motivos que ainda não defini. Sabedores da minha condição de fanboy do Sr. Frusciante, os senhores esperariam que o seu disco mais recente habitasse meus domínios já em janeiro, quando saiu. Eu também, mas por algum motivo protelei esse prazer até agora, quando finalmente pus as mãos na obra.
John lançou vários discos nos últimos anos, todos imperdíveis, que indubitavelmente o diferenciaram do comercialismo dos RHCP e ainda o contextualizaram no rol dos melhores compositores contemporâneos. É o tipo de artista que tem seu próprio mundo musical e quem se permite explorá-lo passa a compartilhá-lo com o músico, "entendendo" sua forma de se expressar ao ponto de finalmente perceber o quão diferenciada sua música é.
Em comum entre seus álbuns, desde o (já) clássico To Record Only Water For Ten Days, há o brilhantismo que cada canção emite individualmente. Seus discos são punhados de excelentes músicas, cada qual com sua beleza, unidas pelo senso que normalmente unifica um álbum. Entretanto, pela primeira vez, Frusciante partiu de uma temática que se não difere-se muito de seus assuntos habituais (vida, morte, erros e redenção), fez uma revolução na forma como costuma apresentar sua música. O conceito do disco gira em torno de como a vida é cíclica em erros e acertos e de como há a necessidade da dualidade entre as coisas boas e ruins para que ambas façam sentido. Esse conceito é ampliado e utilizado como cerne das composições, tanto em letras como em arranjos. Ao invés das músicas nascerem dos instrumentos, elas nascem da temática e tudo que John produz é em função disso. Assim, a maneira como se conhece suas canções foi severamente distorcida, pois ele se desprende dos formatos e faz a música percorrer diferentes caminhos, sem olhar para trás. E The Empyrean torna-se assim uma obra contínua, que não pode ser apreciada em pequenas doses, mas apenas em sua totalidade.
Após a longa introdução instrumental de Before the Beginning, John surpreende com um cover funesto de Tim Buckley, Song To The Siren. Covers são sempre sujeitos a críticas e embora aqui John não demonstre esforço em prestar tributo ao autor ou tampouco dar uma visão diferenciada da canção, há um senso de que sua interpretação é voltada para o conceito do disco, como se Frusciante e Buckley houvessem pensado em determinados temas que de alguma forma uniram suas músicas. Daí adiante, o álbum segue como uma montanha-russa que nunca repete seu trajeto, onde são pensadas as mais diferentes formas de utilizar instrumentos (orquestras, muitos órgãos e pianos). Os destaques individuais (embora a individualização aqui não seja recomendada) ficam com Dark / Light, onde a dualidade de sentidos fica exposta na própria composição, com sua segunda parte primando pela repetição. As últimas três faixas fecham o disco de forma inigualável, com destaque para a energia de Central (minha preferida) e os vocais de One More Of Me.
Poucos discos hoje em dia merecem a alcunha de "transcedental" e de uma forma geral essa denominação pode soar muito forçada. Confesso que tentei, mas não encontrei uma palavra que melhor caracterizasse The Empyrean. Agora falta descobrir como diabos sobrevivi de janeiro até aqui sem a companhia dessa pérola.
Comentários:
Rapaz, é o excesso de oferta, né? Não ouvi o novo Wilco ainda, que é das minhas bandas preferidas...
Hah, discos nunca são demais. No meu caso, foi estado de espírito mesmo. 2009 foi um ano meio atravessado e isso se reflete também nas coisas que dá vontade de escutar. Vai ver, foi por isso que The Empyrean desceu tão bem, pois agora uma boa parte da poeira já assentou e dá para curtir melhor um disco como esse.
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